terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A EUROPA E A LIBERDADE

A liberdade só existe se for ativa, isto é, se servir para o homem exercer sua vontade, não apenas no domínio da vida pessoal, mas no conjunto da sociedade. Por isso, os gregos desdenhavam os conformistas, os que não participavam das decisões coletivas. Esses, ao não exercer a liberdade, a desmereciam. Eram, em sua indolência política, submissos à vontade alheia. A liberdade é, assim, um sentimento ativo. Não é uma situação que se aceita, mas que se constrói. Para lembrar o texto clássico do Santo Tomás de Aquino, a propósito do pensamento político de Aristóteles, é alguma coisa que edificamos enquanto nela pensamos, por isso, a política é uma ciência (ou seja, um conhecimento) moral, e não técnico. Isso quanto à liberdade. E o que podemos entender como Europa? A unidade continental tinha duas idéias básicas. Uma era a da libertação do totalitarismo, outra, a recuperação do poder espiritual do continente sobre o mundo, mediante a reconstrução de sua economia e de seu saber. Nesse sentido, a União Européia foi o resultado da consciência de uma necessidade histórica, trabalhada por alguns excepcionais homens de Estado, de um lado e do outro do Reno.

A queda do muro de Berlim favoreceu a expansão da União Européia, que nascera como a Europa dos Seis em 1957, com o Tratado de Roma. Essa ampliação, sem embargo, vem trazendo problemas de identificação do que seja hoje a Europa, e o que sejam as sociedades nacionais que a integram. A unificação não é completa, começando com o problema da moeda única. Para os ingleses, a libra é, como a monarquia, símbolo sagrado de soberania. Mas não se cinge à Europa a grave crise do homem contemporâneo. Os Estados Unidos estão se confrontando com o mesmo problema de identidade. O major que matou os seus companheiros de farda de Fort Hood é, ou não, um americano? Ele matou concidadãos, ou atirou em inimigos do Islã? A grande vantagem dos Estados Unidos é a de ser, desde os peregrinos do século 17, uma pátria pela escolha, não pela fatalidade do nascimento. Daí o seu extremo nacionalismo: todo Ersatz é sempre mais exacerbado do que o modelo. Essa realidade começa a ser posta à prova. Não teria o major matado simplesmente por fadiga de viver em uma sociedade corroída pelo egoísmo? Os adolescentes que matam seus colegas, lá e alhures, por que o fazem? De acordo com eminentes psicanalistas, quando alguns homens odeiam os outros homens, de forma geral, é porque, no fundo, odeiam-se a si mesmos. Todo assassino é suicida, e todo suicida, um assassino.

Segundo os moralistas da escola que expulsaram uma aluna em São Paulo, ela vestia roupas provocantes. Qual é a escala que separa a sedução da provocação? Quais são os limites para que uma pessoa possa expor ou não o seu próprio corpo? Em uma sociedade erotizada, principalmente pela propaganda comercial, que usa o corpo feminino como apelo de consumo, é natural que muitas mulheres se sintam estimuladas a vestir-se como os modelos dos anúncios. Em nosso tempo, o apelo ao erotismo está em quase toda parte, na música, na literatura, na televisão e no cinema.

Têm sido freqüentes os atos de intolerância contra os alunos diferentes, seja pela cor, pela condição social, pelas dificuldades de locomoção ou de expressão. É hora de colocar limites severos a esses atos estúpidos – em nome da essencial liberdade de ser.

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