domingo, 8 de setembro de 2013

OS AMX, OS SUKHOI, E OS EUA


(HD) - Os pilotos da FAB, que majoritariamente prefeririam a compra de jatos russos Sukhoi-35, no lugar de caças norte-americanos F/A 18E (ver comentários em outras matérias sobre defesa neste blog), devem estar com suas esperanças renovadas, em razão da espionagem direta da NSA (agência nacional de segurança) norte-americana sobre a Presidente Dilma Roussef e outros membros do governo brasileiro. As denúncias praticamente sepultam as chances da Boeing vencer a licitação do Programa F-X2.
O Brasil não foi apenas mais um país entre os muitos espionados pelos EUA, mas o país estrangeiro mais espionado pelos EUA.
Os norte-americanos nos consideram não apenas um adversário potencial, mas - como criador dos BRICS e terceiro credor dos EUA – o seu pior inimigo, a nação mais perigosa do mundo, no contexto geopolítico.  
Se os Estados Unidos são capazes, do ponto de vista moral, de espionar até o email dos outros, como o mais vulgar fofoqueiro de escritório ou hacker ladrão de senha de banco e de cartão de crédito, imagine-se o que não fariam com os códigos-fonte  dos novos caças brasileiros, e o que não fazem, por meio das empresas (próprias e originárias de outros países da OTAN), que trabalham na indústria de  “brasileira” de defesa.
A nova motorização e aviônica dos caças AMX - os primeiros exemplares modernizados foram entregues pela Embraer à FAB essa semana - mostram que, se quisermos, poderemos fabricar aqui mesmo, a partir desse vetor subsônico, aviões intermediários para cuidar da defesa de nossas fronteiras.
Quanto à compra de caças-bombardeios de primeira linha, a aproximação com os russos, com a aquisição dos Sukhoi-35 como fator de dissuasão, nos permitiria entrar de pleno como sócios em bases iguais - com garantia de desenvolvimento e transferência de tecnologia - no Projeto do PAK FA T50, o caça multipropósito de quinta geração que está sendo construído em conjunto por russos e indianos no âmbito dos BRICS.
O PAK-FA está sendo desenvolvido justamente para substituir o Sukhoi SU-35 (sua tecnologia os russos já asseguraram ao Brasil em caso de compra), como o principal caça russo para a primeira metade do século XXI. É um caça-bombardeio polivalente de incrível manobrabilidade (ver vídeo), com um alcance de 5.000 quilômetros, e carga de 10 toneladas de armas. 
Enquanto os EUA fazem o que querem com as nossas telecomunicações - criminosamente desnacionalizadas no Governo Fernando Henrique, a ponto de entregar até os BrasilSATs para os mexicanos - a Embraer se aproxima perigosamente da Boeing, em projetos como o do novo transporte militar KC-390, originalmente projetado no Brasil, e concebido inicialmente como um avião regional, sem participação norte-americana.
Considerações de mercado não podem sobrepor-se a interesses estratégicos nacionais, principalmente quando se trata de “sócios” com a credibilidade e caráter de nossos vizinhos do norte.



O CAIRO, DAMASCO, E A HIPOCRISIA NORTE-AMERICANA

(JB)- John Kerry anunciou esta semana, na Casa Branca, que os Estados Unidos têm “provas irrefutáveis” do uso de armas químicas pelo Governo Sírio. Traços de gás Sarin teriam sido encontrados no sangue e nos cabelos de voluntários que participaram do resgate de civis atingidos logo após um suposto ataque do governo contra rebeldes no dia 21 de um agosto.
Já vimos esse filme.  O uso de armas de destruição em massa pelo governo de Saddam Hussein também foi apresentado de forma inconteste e irrefutável pelo governo norte-americano.
Em nome dessa “certeza”, o Iraque foi bombardeado e invadido, suas defesas foram destruídas por corajosos jogadores de vídeo-game instalados a bordo de aviões e porta-aviões, sem um único combate corpo a corpo, e morreram milhares de crianças e civis iraquianos.
E até hoje nem uma única arma de destruição em massa foi encontrada - apesar de milhares de soldados norte-americanos terem também sido mortos ou feridos, tentando ocupar o território virtualmente “conquistado”, de onde os EUA já se retiraram, depois de centenas de bilhões de dólares em gastos.
Na época, o inspetor da ONU Hans Blix – que deu uma entrevista esta semana ao jornal britânico The Guardian dizendo que não há justificativa para um ataque ocidental à Síria – negou que houvesse armas de destruição em massa no Iraque e teve sua missão em Bagdá interrompida pelos bombardeios norte-americanos.
Os EUA costumam usar, sem nenhum escrúpulo, seus eventuais aliados, e depois livrar-se deles sem nenhuma consideração moral ou ética.
Foi assim, quando se aliaram a Saddam armando-o na guerra contra o Irã, para depois destruir o seu regime sob um pretexto falso, e persegui-lo até a execução de sua sentença de morte por enforcamento, no dia 30 de dezembro de 2006 em Bagdá.
Foi assim que fizeram com Osama Bin-Laden – com cuja família os Bush tinham negócios - depois de apoiá-lo na guerrilha contra os russos no Afeganistão, até cercá-lo e abatê-lo desarmado, na frente de sua família, no dia 2 de maio de 2011, em Abbotabad, no Paquistão.
E foi assim que aconteceu também com Muamar Kadhaffi, capturado de mãos nuas e espancado brutalmente até a morte, em 20 de outubro do mesmo ano, em Sirte, na Líbia, a ponto de ter seu corpo transformado em um hambúrguer diante das câmeras de seus verdugos, armados pelos mesmos países ocidentais que antes o recebiam e apoiavam.    
Agora, a história se repete. Os EUA e as grandes redes de meios de comunicação do ocidente  procuram desqualificar a denúncia da inspetora da ONU Carla Del Ponte, de que teria levantado evidências, na Síria, de que gás Sarin estaria, na verdade, sendo usado pelos “rebeldes”, apoiados pelo Ocidente, com a intenção de culpar o governo de Bashar Al Assad pelo seu uso.
Ao invadir outros países sem provas e sem autorização das Nações Unidas, os Estados Unidos agem como os nazistas, que deram início à Segunda Guerra Mundial com uma farsa que completou há três dias exatos 74 anos.
No dia 31 de agosto de 1939 a SS nazista simulou a invasão de uma rádio de língua alemã, na cidadezinha fronteiriça de Gleiwitz, por tropas do exército polonês, para divulgar uma falsa  mensagem conclamando a população da Silésia a se revoltar contra Hitler.
Para dar o máximo de verossimilhança aos fatos, os oficiais de Himmler, disfarçados de soldados poloneses, levaram com eles, também vestidos com os mesmos uniformes, 12 prisioneiros de campos de extermínio, que foram abatidos no local, ao final da operação, para que seus cadáveres servissem de prova da suposta ”invasão” polonesa.  No dia seguinte, 1 de setembro de 1939, as tropas de Hitler, já agrupadas na fronteira, invadiriam a Polônia, dando início à Segunda Guerra Mundial.
Ressabiado, talvez, pela participação – sem provas que a justificassem – da Grã Bretanha na Guerra do  Iraque, o Parlamento inglês negou na última semana ao Primeiro-Ministro James Cameron autorização para participar do ataque à Síria.
O mundo espera que o Congresso dos EUA, obedecendo à opinião da maioria da população norte-americana, tome atitude semelhante. E que Obama recue, como pode acabar fazendo, de seu plano contra a Siria, estabelecido, como afirmou John Kerry, em sua entrevista na Casa Branca, para “mandar uma firme mensagem” a outros países, como a Coréia do Norte e o Irã. 

Não se pode aceitar que a mesma nação que apóia e financia, com bilhões de dólares, o exército golpista egípcio - para que seus soldados massacrem a população civil nas ruas do Cairo - ataque ou bombardeie Damasco, sob pretexto de defender a liberdade.   

sábado, 12 de janeiro de 2013

REUNIÃO DO BRICS SOBRE SEGURANÇA EM NOVA DELHI DISCUTE TERRORISMO, PIRATARIA E GUERRA ELETRÔNICA.


O conflito sírio, a situação na Líbia, e a tensão no Mali, país para o qual o Conselho de Segurança da ONU acaba de aprovar o envio de uma Força Multinacional, diante da grave deterioração da situação interna, foram os  principais assuntos abordados na quarta Reunião para Assuntos de Segurança do BRICS, encerrada ontem na capital indiana, Nova Delhi.
Ao fazer um balanço da reunião, o anfitrião e assessor de Segurança Nacional do governo indiano, Shivshankar Menon, disse que os BRICS continuam contrários a qualquer intervenção militar externa na Síria. E anunciou que foram discutidos também temas relacionados ao combate e à prevenção do terrorismo e da pirataria, e no campo da defesa cibernética, no contexto do fortalecimento dos mecanismos de consulta, coordenação e estreitamento da cooperação estratégica do BRICS nos próximos anos.
A intenção é montar, especialmente na guerra eletrônica, equipes de resposta rápida que possam neutralizar rapidamente ataques na área. Finalmente, o dirigente indiano sublinhou o alto nível de entendimento entre os membros do BRICS na maioria dos temas abordados, e disse que os resultados da reunião serão repassados para as lideranças de cada país, que deverão voltar a discuti-los na Quinta Cúpula Presidencial dos BRICS, que será realizada no final do mês de março, na cidade de Durban, na África do Sul.   

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

O JARDINEIRO URUGUAIO


     (Carta Maior) -           O New York Times publicou, neste fim de semana, um perfil do presidente do Uruguai, José Mujica. Não é a primeira vez que seus hábitos modestíssimos ocupam alguns importantes jornais do mundo. Mais instigante do que o estranho chefe de Estado e de governo, que doa quase todos os seus subsídios presidenciais aos pobres, e que cultiva crisântemos, é o próprio Uruguai, que chegou a ser comparado com a Suíça nas primeiras décadas do século passado.
        A comparação foi injusta para com o Uruguai, embora o país meridional tenha servido também de paraíso fiscal para os meliantes de sempre: lavadores de dinheiro e ladrões de recursos públicos dos países vizinhos.
          O Uruguai se destacou, na América Latina, pela coragem de um grande presidente, José Battle y Ordoñez. Quando o continente se encontrava sob a influência reacionária da Igreja Católica, ainda em 1906, o presidente, que era homem da poderosa oligarquia uruguaia (seu pai foi presidente da República e a família continuou poderosa até recentemente), mandou retirar os crucifixos dos hospitais, promoveu a legislação que instituiu o divórcio, e proibiu a evocação de Deus e dos Evangelhos nos juramentos oficiais.
         Mais ainda: determinou o sufrágio universal, reformou, ampliando-o, o sistema de ensino, na confessada e obstinada decisão de construir uma poderosa classe média. Em seu segundo mandato, de 1911 a 1915, Battle se declarou contra o imperialismo, estabeleceu o seguro desemprego, com a lei de compensação contra a falta de trabalho, ao mesmo tempo em que acabou com os grandes monopólios privados, estatizando-os.
           O Uruguai era, e continua a ser, país privilegiado pela fertilidade de suas terras, o que o fez um dos maiores exportadores de carne e de lã do continente. A população sempre foi reduzida, e urbana: no campo só ficavam os vaqueiros e os cultivadores de trigo. Isso favoreceu a evolução do país, e contribuiu para que a sua sociedade fosse a menos desigual do continente, até a onda golpista dos anos 60 e 70 na nossa América Latina, promovida pelos norte-americanos, e a adesão ao neoliberalismo.
          Com os recursos obtidos no comércio internacional, o Uruguai foi o pioneiro no mais exitoso sistema de bem-estar social do hemisfério. A aposentadoria era precoce para os trabalhadores mais sacrificados, fosse pelas condições físicas da atividade, fosse pela sua pressão psicológica (como os pilotos de aviões, por exemplo).
          José Mujica talvez exagere em seus hábitos, ao desprezar a residência oficial dos chefes de Estado e mesmo, como fez, usá-la como abrigo para os moradores de rua, que o neoliberalismo está produzindo em seu país. Mas, com isso, ele – como de alguma forma já fizera seu antecessor, Tabarez Vázquez – despe o poder de seus ornamentos costumeiros. Constantino, o grande imperador, vestia roupas novas e cobertas de ouro, todos os dias. Mujica, o antigo guerrilheiro tupamaro, que passou 14 anos preso, não usa gravatas.
          Ao receber, em sua casa (sem empregados domésticos) o repórter que o entrevistou, Mujica ofereceu-lhe um trago de cachaça uruguaia, enquanto demonstrava a sua cultura, citando Spinoza. Lembrou uma passagem de Dom Quixote e Sancho Pança, que, hóspedes de pastores de cabras, bebem vinho e comem cabrito assado, com seus  anfitriões, e observou que os pastores são os homens mais pobres da Espanha.
        “Provavelmente, por isso mesmo, sejam os mais ricos”, completou o presidente, que é contra a reeleição, e pretende voltar a plantar flores, quando seu mandato terminar.