terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

AS DUAS ITÁLIAS


Sexta-feira, enquanto centenas de intelectuais, entre eles o dramaturgo Dario Fo, o romancista Antonio Trabucchi, as estrelas Franca Rame e Margherita Hack, se preparavam para uma grande manifestação em Roma, a fim de exigir a demissão de Berlusconi da chefia do governo italiano, o poderoso homem de negócios era acusado de estar por detrás do assassinato dos juizes Giovanne Falcone e Paolo Bersolini nos anos 90.


A manifestação, convocada pela internet, é mais importante, porque nenhum político poderá dela participar. Essa foi a decisão tomada pelos organizadores, para mostrar que se trata de um protesto de cidadãos, em defesa da dignidade da Itália. Da outra Itália, feita de grandes homens da ciência, da literatura, do humanismo – e não de assassinos, de criminosos que têm ocupado o Estado, de tiranos e bandidos, como foi Mussolini, e de seus êmulos menores, entre eles Andreotti e Sílvio Berlusconi.


São dois pesados golpes. A manifestação, se teve a magnitude que se esperava (escrevemos na sexta-feira), reuniu ontem pessoas de toda a Itália, que devem ter acorrido a Roma em mais de 700 ônibus, quatro trens especiais e um navio procedente da Sardenha. Temia-se pela repressão policial, na cidade que é governada por neofascistas.


Enquanto se organizava o encontro, em Torino, em sala de tribunal montada em búnker blindado, e sob pesada presença policial, o arrependido Gaspare Spatuzza acusava o primeiro ministro e o senador Marcelo Dell’Utri, de serem “a referência política” por detrás dos atentados que mataram, entre outras personalidades, os juizes Giovanne Falcone e Paolo Borsellino, em maio e em julho de 92. Os dois são acusados de mandatários do crime. “Meu arrependimento é a conclusão de um belíssimo percurso espiritual que se iniciou graças ao capelão do presídio de Ascoli Piceno e continuou em Áquila, onde me confessei com o arcebispo Giuseppe Molinari” – disse Spatuzza aos juízes. Ele parecia firme em seu depoimento. “Já matei mais de quarenta pessoas”, afirmou, depois de confessar que lhe coube arranjar o automóvel que, carregado de explosivos, matou o juiz Borsellino.

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